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Thais Zara fala da confiança nos mercados

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Thais Marzola Zara é economista-chefe da Rosenberg Associados, consultoria econômica conceituada, primeira colocada em diversos rankings de projeção de cenário para o Brasil, como Reuters em 2014, Consensus Economics em 2013, Agência Estado nos anos de 2012 e 2013, e sempre presente no TOP5 do Relatório Focus do Banco Central. Mestre em Teoria Econômica pela USP, é economista pela mesma instituição, tendo concluído seu bacharelado com menções honrosas e sua monografia tendo sido agraciada com a segunda colocação entre as melhores do estado de São Paulo no ano de 2002, segundo o Corecon. Com toda sua competência e vivência no mercado, a economista afirma: “Com seu capital político largamente desgastado e voltado principalmente a evitar o Impeachment [o Governo], há muito pouco espaço para ações eficazes de reversão do ciclo econômico. O encolhimento do setor industrial ocorre à luz do dia. A perda de participação vem ocorrendo há cerca de vinte anos, mas nos últimos dois anos temos testemunhado redução da produção, do número de empresas industriais e do pessoal empregado no setor. (…) Desde que haja transparência e qualidade técnica, as instituições financeiras ouvem seu cliente e procuram viabilizar uma solução. Este é um caso em que uma assessoria de reestruturação com credibilidade pode fazer uma grande diferença na mesa de negociação”.

Thais, 2016 é um ano perdido para a economia nacional?

2016 será um ano muito difícil, pois, aprofundaremos a queda da atividade econômica que já está em curso desde meados de 2014. Levaremos ao menos até o final da década para retornar aos patamares anteriores de atividade econômica. Toda crise, no entanto, abre inúmeras possibilidades, portas para que os produtores mais competitivos se destaquem, ao mesmo tempo, criando as bases para uma recuperação da economia mais sólida no futuro – ainda mais se a crise nos instar a fazer ao menos parte das reformas estruturais necessárias.

Quais serão os efeitos sentidos pela economia brasileira no que se diz respeito a perda do grau de investimento das agências Fitch, Moody´s e Standard & Poor´s?

Na verdade, sentimos os efeitos do rebaixamento antes mesmo deles terem ocorrido. Os mercados os antecipam. Reduziu-se o apetite por ativos brasileiros de modo geral, além do encarecimento do crédito para tomadores brasileiros, sejam eles públicos ou privados. A boa notícia é que um dos principais gargalos que a economia brasileira teve de resolver antes de obter o grau de investimento foi o setor externo; nesta crise, já tivemos um ajuste forte das contas externas e contamos com reservas internacionais abundantes, de modo que voltar a obter o selo de bom pagador passa apenas pelo acerto das contas públicas. Claro que a solução do imbróglio fiscal não é um tema simples, mas poderemos voltar ao grau de investimento de forma relativamente rápida quando a dívida pública estiver numa trajetória sustentável.

Como o atual Governo pode reverter o cenário econômico que neste momento é desolador para a população de modo geral?

É preciso um choque de confiança, sobretudo no que diz respeito às contas públicas. Com seu capital político largamente desgastado e voltado principalmente a evitar o Impeachment [o Governo], há muito pouco espaço para ações eficazes de reversão do ciclo econômico. Desta forma, o Governo acaba direcionando recursos a medidas tópicas, que podem promover um alívio temporário – como algumas ações direcionadas de crédito -, mas que não são capazes de reverter as expectativas. A saída da crise, mantido o atual do Governo, virá pela redução da inflação, seguida de redução de juros e lenta retomada do crédito. Mas será muito mais lenta do que se gostaria.

As projeções do PIB (Produto Interno Bruto) estimam melhora dos números a partir de que momento?

A partir de 2017 poderemos ter números pouco melhores na margem (comparação de um trimestre contra o trimestre anterior), mas ainda assim numa recuperação muito lenta.

A inflação e a recessão, são os principais problemas do país na atualidade?

A inflação começa a colaborar positivamente para o cenário na medida em que começa a arrefecer. Ainda que superemos o teto da meta de inflação em 2016 (de 6,5%), teremos uma desinflação importante ao longo do ano, trazendo algum alívio. A recessão, com fortes repercussões sobre o mercado de trabalho, aumenta a comoção social – teremos mais de 10 milhões de desempregados em 2016. Temos também graves problemas de saúde pública, como dengue, zika, entre outros, que ocuparão as manchetes dos jornais em alternância com os escândalos de corrupção progressivamente expostos pela Lava-Jato. É mais lenha na fogueira da insatisfação popular.

Marcos regulatórios melhores e mais estáveis trariam novamente investidores para setores de grande carência, como, por exemplo, o setor de infraestrutura?

Sim. No setor de energia, por exemplo, as constantes interferências ao longo dos últimos cinco anos reduziram bastante a atratividade – e poderiam ser largamente beneficiados por marcos regulatórios mais estáveis. No caso dos leilões de concessão para infraestrutura (rodovias, portos, etc.), houve algum aprimoramento no final do primeiro Governo Dilma, mas ainda há espaço para aprimoramentos adicionais. A abertura para maior participação de estrangeiros nestes leilões é um passo importante, pois, ampliaria a capacidade de captação de recursos para estes investimentos ao mesmo tempo, em que se permitiria contornar as dificuldades pelas quais estão passando as maiores construtoras brasileiras, alvos de investigação no âmbito da Lava-Jato.

Como as empresas endividadas podem sobreviver a essa crise?

Cada caso é um caso. Desde que haja transparência e qualidade técnica, as instituições financeiras ouvem seu cliente e procuram viabilizar uma solução. Este é um caso em que uma assessoria de reestruturação com credibilidade pode fazer uma grande diferença na mesa de negociação. Dos dois lados – credores e devedores – há muita insatisfação e o papel de manter a discussão no plano técnico é a principal função do reestruturador contratado.

Ainda falando sobre empresas, em que momento elas devem buscar uma recuperação judicial, uma reestruturação ou uma venda?

Geralmente, o empresário, imerso na luta pela sobrevivência, está sempre atrasado em relação a estas opções. Quanto antes ele puder se valer de uma orientação profissional e objetiva, maiores as chances de sucesso, pois, não é possível soluções genéricas para questão tão particular. Entretanto, como regra de bolso – quase leviana -: quando a dívida ainda estiver abaixo de três vezes Ebtida, a reestruturação é possível sem grandes traumas; entre 3 e 5 vezes, dependendo da natureza do endividamento e do potencial da empresa, talvez ainda caiba uma reestruturação acoplada à venda. Só acima deste patamar é que se deve cogitar da recuperação.

Existe realmente uma desindustrialização em nosso país?

Sim, o encolhimento do setor industrial ocorre à luz do dia. A perda de participação vem ocorrendo há cerca de vinte anos, mas nos últimos dois anos temos testemunhado redução da produção, do número de empresas industriais e do pessoal empregado no setor. Políticas equivocadas, uma estrutura tributária onerosa e disfuncional, encargos trabalhistas exorbitantes, infraestrutura precária, baixa inserção da indústria brasileira nas cadeias globais de valor, baixa qualificação da mão de obra, tudo isso contribui para a baixa competitividade do produto manufaturado brasileiro, tanto no mercado externo quanto doméstico. Isso nos leva à redução da presença industrial.

No ano passado, o presidente do BC (Banco Central) Alexandre Tombini, afirmou que a política fiscal do Governo comprometeu a economia do país. Como vê essa análise do executivo?

Em meados de 2011, a política monetária alterou seu curso de maneira inesperada: a trajetória de aperto monetário (alta dos juros) foi subitamente trocada pelo relaxamento monetário (queda dos juros). Parte da justificativa para esta alteração foi o ambiente internacional, mas uma boa parte deste movimento era calcado nas promessas de maior austeridade fiscal – na verdade, seria a melhor das combinações em termos de política econômica: política fiscal austera e monetária expansionista. No entanto, o que se viu foi justamente o contrário: enquanto o Banco Central reduzia a Selic a patamares nunca antes vistos na história deste país, os gastos do Governo iam aumentando cada vez mais, atingindo metas cada vez menores de superávit primário e, ao final do primeiro Governo Dilma, com o uso de contabilidade criativa. O resultado foi desastroso: a inflação subiu, utilizou-se a manutenção de preços essenciais para a economia em patamares artificialmente baixos, a fim de se cumprir a meta de inflação, o crescimento foi pífio e a credibilidade do Banco Central foi afetada desde então. Os custos impostos em termos de perda de atividade para gerar uma mesma desinflação cresceram muito. Mas, sim, o principal gerador da atual crise reside na política fiscal equivocada, com políticas de subsídios vultuosos sem a devida análise de custo-benefício, além do aumento desenfreado dos gastos.

Redução da burocracia, simplificação tributária e investimentos em infraestrutura, essas são as saídas para o país voltar a crescer?

Sem dúvidas. Seria um princípio importante em termos de incentivo ao investimento. Todavia, será necessário repensar, também, a trajetória de crescimento dos gastos públicos de longo prazo, já que uma reforma tributária sem reforma fiscal não é sustentável. Nesta linha, limites para aumento dos gastos, desvinculações e uma reforma da previdência são itens indispensáveis.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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