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Ives Gandra Martins fala da justiça e outros temas

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Ives Gandra Martins é o presidente do Centro de Extensão Universitária e professor emérito da Universidade Mackenzie; Professor honoris causa pela PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), pela FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) e pelo Centro Universitário FIEO. Não obstante, é um dos membros da Academia Paulista de Letras, do Instituto dos Advogados de São Paulo, da Ordem dos Advogados seção de São Paulo, e conselheiro vitalício e ex-presidente do Conselho Consultivo do São Paulo Futebol Clube. Gandra foi um dos primeiros brasileiros a ingressar no Opus Dei. Foi biografado em um documentário em 2005 por José Sales Neto, com direção do advogado Luís Carlos Gomes e participação especial da escritora Lygia Fagundes Telles, de seu irmão, o maestro João Carlos Martins e do poeta Paulo Bomfim. “Temos no Brasil excesso de instâncias, excesso de recursos, escassez de magistrados e escassez de meios financeiros para o Judiciário. Há, também, um problema de gestão a ser solucionado. E outro de competências. Onde não há Justiça Federal, ou seja, nas Comarcas sem varas federais, a Justiça Estadual responde por questões federais, a custo zero. (…) Todo o governo “populista” e em que a manipulação do povo é a forma de controlá-lo tende a ditadura. Cuba é a prova inequívoca do que digo. Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua seguem o modelo”, afirma o jurista. 

O senhor concorda com o seu colega de profissão, Carlos Ari Sundfeld, quando ele diz que o sistema de MPs (Medidas Provisórias) está desmoralizado?

A Medida Provisória é uma solução legislativa extrema, só admitida em caso de relevância e urgência. Sempre que não haja os dois requisitos não deve ser adotada. A banalização, na sua adoção pelo Executivo, desmoralizou o instituto para a doutrina, mas fortaleceu a força do Poder Executivo, dando-lhe poderes quase ditatoriais. Como instrumento normativo permitido ao Executivo está desmoralizado e concordo com o Ari.

Quais os mecanismos que poderiam ser alterados para termos uma Justiça um pouco mais rápida, ou o senhor acredita que isso depende muito dos volumes de cada caso?

Não é fácil a solução do problema. Já o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e diversos tribunais pretenderam acelerar os julgamentos, mas esbarraram na complexidade da legislação processual e também de direito material. É que nem sempre a justiça mais rápida é a justiça mais justa. Temos no Brasil excesso de instâncias, excesso de recursos, escassez de magistrados e escassez de meios financeiros para o Judiciário. Há, também, um problema de gestão a ser solucionado. E outro de competências. Onde não há Justiça Federal, ou seja, nas Comarcas sem varas federais, a Justiça Estadual responde por questões federais, a custo zero. Em São Paulo há tantos processos federais na Justiça Estadual quanto na Justiça Federal, trabalhando o estado de São Paulo de graça para a União, que tem um orçamento com aproximadamente 60% dos recursos tributários, enquanto Estados (26 mais Distrito Federal) Municípios (5568) têm apenas 40%. Este trabalho gratuito dos estados para a União deveria ser remunerado. A EC. 45/05 (Emenda Constitucional sobre a Reforma do Judiciário) melhorou um pouco, mas há ainda muito a fazer.

Qual a análise que o senhor faz do recente conflito entre Congresso e Supremo?

Considero uma consequência do ativismo judicial. O Judiciário é apenas um legislador negativo. Quando passou a ser um legislador positivo (caso casamento gay, aborto dos anencéfalos, substituição de governadores depostos por candidatos derrotados etc.), invadiu competências do Legislativo, que passou a reagir afrontando o Pretório Excelso (denominação do Supremo Tribunal Federal). Se o conflito exacerbar-se, pelo artigo 142 da Constituição Federal, o mediador será as Forças Armadas, por força do art. 142 da Constituição Federal transcrito: ” Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. ” (grifos meus). Segue o meu artigo.

Alguns dizem que a segurança jurídica corre risco com alguns governos da América Latina chamando-os de “populistas”. O senhor também enxerga algum risco?

Todo o governo “populista” e em que a manipulação do povo é a forma de controlá-lo tende a ditadura. Cuba é a prova inequívoca do que digo. Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua seguem o modelo que está levando-os para uma semi-ditadura. Economia e Direito são sempre vítimas dos regimes populistas.

 

Recentemente, o senhor afirmou que o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) é um feudo dos Zveiters. Por que então que concursos públicos não são realizados para este fim?

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Não são realizados porque não interessa aos donos do futebol no país, que são os que indicam os juízes de sua preferência. O simples fato de todos os esportes terem o controle eletrônico dos lances, inclusive vôlei, tênis e futebol americano e o futebol de campo não, demonstra que Shakespeare poderia também, se tivessse a longevidade de Matusalém, escrever sobre o Brasil como escreveu sobre o príncipe dinamarquês. É que sem controle eletrônico, os resultados podem ser – e o são – distorcidos. Segue meu artigo sobre o juiz artilheiro: Concurso público dificilmente permitiria que os amigos do rei fossem indicados.

O senhor disse que é utópico acabar com a espionagem como é utópico acabar com a corrupção. Então o que deve ser feito para que o Brasil consiga se defender judicialmente contra a espionagem praticada por alguns países?

Tendo um serviço de contraespionagem eficaz. No episódio das embaixadas espionadas pelos EUA, demonstrou que o Brasil também espiona. Só que é menos eficaz. Segue meu artigo “Serviços de inteligência”.

Por que a reforma política ainda não saiu do papel?

A reforma política não sai do papel porque quem tem o poder de fazê-la, não quer. São os políticos no poder. Quem tem poder, não abre dele mão, a não ser que o poder seja-lhe tirado. Como o sistema é bom para eles, embora ruim para o povo, não há porque modificá-lo.

Sabemos que o senhor já falou bastante sobre a ação penal número 470 chamada popularmente de Mensalão. Como analisa esse caso e em especial a situação de José Genuíno e José Dirceu?

Entendo que o resultado final foi positivo, tendo, todavia, preocupação com a denominada teoria de domínio do fato aplicada a José Dirceu. Sem provas materiais e as testemunhais comprometidas com eventual “denunciação premiada”, no caso não aceita, o princípio do “in dubio pro reo” (expressão latina que significa literalmente na dúvida, a favor do réu) fica sacrificado. Segue artigo escrito na Folha sobre “A liberdade do intérprete”.

O senhor concordou com os vetos judiciais que os shoppings obtiveram contra o chamado “rolezinho” falando que falta bom senso. De onde o senhor acredita que vem a polêmica da exclusão de pessoas?

Sendo locais privados com objetivo definido (permitir compras e prestação de serviços (cinema, bares, restaurantes etc.) quem não tem interesse nestes pontos e deseja protestar não deve e nem pode entrar em tais locais, como decidiu corretamente o Judiciário de São Paulo. Em países civilizados, todos os protestos em movimentos devem ser anunciados, não devem prejudicar o ir e vir das pessoas, as autoridades definem o lugar e devem os manifestantes limparem o local depois. Nisto o Brasil, volta a ser uma republiqueta com os movimentos mais estranhos sendo defendidos, como, por exemplo, “o de espaço vazio” de Minas. Em breve haverá o “movimento dos sem temas de movimentos”, pois, estarão os temas esgotados.

A atuação de Joaquim Barbosa (presidente do STF) é elogiada por uns e criticada por outros. E o senhor como vê a atuação do ministro?

É um ministro duro, que não esconde suas opiniões, mesmo quando atinge colegas. É, todavia, competente, um humanista de admirável cultura. Conduziu bem a Suprema Corte, nada obstante as procelas e tempestades, muitas vezes alavancadas pela mídia.

Se pudesse dar uma nota para a Justiça brasileira hoje qual seria e por quê?

Não gosto de dar notas, mas considero que com os defeitos que todas as instituições têm, sua atuação é boa, sendo, de longe o melhor dos três Poderes.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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