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Bolívar Lamounier aponta carências do país

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Um dos cientistas políticos e sociólogos mais reconhecidos do Brasil, Bolívar Lamounier, é diretor da Augurium Consultoria, Bacharel em Sociologia e Política pela UFMG (1964) e Ph.D. em Ciência Política pela Universidade da Califórnia, Los Angeles (1974). Foi membro da Comissão de Estudos Constitucionais (“Comissão Afonso Arinos”) nomeada pela Presidência da República em 1985 para preparar o anteprojeto da Constituição. Coordenou o programa de estudos sobre a revisão constitucional do Instituto de Estudos Avançados da USP em 1992-1993. Integrou o COPS (Conselho de Orientação Política e Social) da Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de S.Paulo – de 1989 a 2001. Presidiu o Conselho Diretor do CESOP – Centro de Estudos de Opinião Pública – da Universidade de Campinas, São Paulo, de 1993 a 1999. Atualmente é membro do Comitê Assessor Acadêmico do Clube de Madri (entidade integrada por ex-chefes de Estado, criada em outubro de 2002, com o objetivo de promover internacionalmente a democracia). Lamounier escreve frequentemente para importantes veículos da imprensa brasileira. Em 1997 foi eleito para a Academia Paulista de Letras. É autor de numerosos estudos de Ciência Política publicados no Brasil e no exterior. “No campo ético, desde 2003, a era lulo-petista vem sendo um período de terra arrasada. Não só a roubalheira, a esta altura incontestável”, afirma o cientista político.

Em uma de suas entrevistas, o senhor afirma que temos um Congresso medíocre. É possível no sistema político que temos hoje, qualificar esse Congresso tanto na questão ética como na questão intelectual?

A curto prazo, me parece quase impossível. Com o condomínio PT-PMDB no Governo, impossível. Entendo, pois, que poderia melhorar se um movimento de opinião vigoroso conseguisse forçar o Congresso a votar o impeachment, e a partir daí começássemos a discutir uma reforma política séria, com R e P maiúsculos.

Estamos passando por uma crise ética ou de liderança?

Ambas as coisas. No campo ético, desde 2003, a era lulo-petista vem sendo um período de terra arrasada. Não só a roubalheira, a esta altura incontestável, mas a desmoralização das instituições – salvo, é claro, pequenas ilhas dentro do Ministério Público e principalmente do Judiciário, exemplificadas pelo juiz Sérgio Moro. De liderança também: uma longa entressafra. O Congresso atual e a maior parte dos governadores são exemplos acabados disso.

O senhor afirmou, que se o ex-presidente Lula, tivesse tomado providências logo no início da crise institucional, que começou com a CPI dos Correios, teria controlado pelo menos 50% do problema. Que fatores considera serem determinantes, para isso não ter ocorrido?

Primeiro, Lula nunca foi de tomar decisões difíceis, ele gosta é de arbitrar as brigas entre os partidos concedendo uma parte do que cada um reivindica; segundo, como hoje está claro, ele tinha interesse nos esquemas de corrupção, sempre os viu como um instrumento do que os petistas chamam de “projeto de poder” do partido.

Dilma sofre no Governo pela sua falta de carisma (o que Lula tinha e tem bastante), pela sua falta de traquejo político, por outras razões não citadas, ou por ambas questões?

Por todas essas, mas sobretudo por sua desumana incompetência em economia e por sua tendência a não admiti-la; não consegue se livrar de seu vezo ideológico estatizante e da mania de querer fazer a economia crescer na base do “voo de galinha”, através do crédito ao consumo.

O impeachment da presidente da República é algo que pode realmente ocorrer, ou ainda é muito cedo para qualquer tipo de análise?

Um fator decisivo vai ser a manifestação programada para 13 de março. Ela está com 5% de aprovação, segundo a última pesquisa Ipsos. Se os cidadãos saírem de fato às ruas, o Congresso certamente votará o impeachment. Se não o fizer, apertemos os cintos, vamos ter um voo cego de três anos.

Em momentos de crise, sempre aparecem os “salvadores da pátria” com todas as fórmulas mágicas para diluir os problemas vigentes. Acredita que a população está com a sua percepção apurada para esses falsos messias?

No momento, parece que está. No longo prazo é difícil de ser, o Brasil é um país cheio de carências que fomentam essa visão “salvacionista”.

Lula surgiu sob proteção de algumas instituições (Igreja Católica e imprensa principalmente), de alguns núcleos de sustentação (elite financeira e elite intelectual), e até mesmo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em que momento houve o desencanto com o “mito do sindicalista ungido pelo povo?”.

Nos últimos cinco anos, sem dúvida, por duas razões: 1) o desastre de Governo que impingiu ao país através de sua pupila, Dilma Rousseff; 2) a teia de corrupção desvendada através do “petrolão”, que finalmente revelou que ele mesmo não é a “alma” honesta que apregoa ser.

Como o senhor acredita que o Partido dos Trabalhadores sairá depois que toda essa rede de escândalos for totalmente esclarecida?

Tudo vai depender do futuro político do Lula. Pela resposta anterior, penso que ele está próximo do fim. Mas se não estiver, poderá dar uma sobrevida ao PT. Sem ele, o PT é um elenco fraquíssimo para um enredo ainda pior.

O Brasil hoje é um país dividido, muito pelo resultado das eleições presidenciais de 2014. Enxerga uma unidade da nação em médio prazo, ou essa ferida não cicatrizará tão fácil?

Não cicatrizará tão cedo. Isso o Lula conseguiu; trabalhou meticulosamente nesse sentido desde 2003, quando começou a acusar o ex-presidente Fernando Henrique de lhe ter legado uma “herança maldita”.

Enxerga outro partido disposto a ser um dos atores principais do jogo politico nacional, com PSDB e PT, ou todos sem exceção, preferem ficar confortavelmente como coadjuvantes desse “filme” melodramático, apenas usufruindo das benesses do poder, sem o risco das urnas em uma eleição majoritária para à presidência da República?

Em tese, o PMDB, mas convenhamos que é um mala sem alça.

Nos últimos anos, a classe C foi a menina dos olhos da sociedade em todos os âmbitos. Como vê a classe C atualmente, passada a onda de otimismo e veneração sobre os membros dessa fatia da sociedade?

Famílias de renda bem modesta foram enganadas pelo Governo, que queria porque queria fazer a economia crescer e pensava conseguir isso só com o financiamento creditício ao consumo. É lógico que não dava, como não dará nunca, isso em economia é bê-á-bá. Mas foi para isso que propagaram a lenga-lenga de uma super-mobilidade social, com 50% ou mais da população ascendendo à classe média. Essa foi uma das maiores mentiras governamentais da história brasileira.

Última atualização da matéria foi há 10 meses


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