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Internet vem mudando todo consumo do cinema

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A paulistana Anna Muylaert estudou cinema na Escola de Comunicação e Artes da USP. Como roteirista participou das equipes de criação dos programas Mundo da Lua (1991) e Castelo Rá-Tim-Bum (1995) da TV Cultura; Disney Club (1998), do SBT, Um Menino Muito Maluquinho (2006), da TVE Brasil, além de ter escrito o episódio do Open a Door: “O Menino, a Favela e as Tampas de Panela”, dirigido por Cao Hamburger. Como diretora, dirigiu vários curtas, entre eles “Rock Paulista”, “A origem dos bebês segundo Kiki Cavalcanti” (1996) e os longas-metragens “Durval Discos” (2002), prêmio de melhor filme e melhor diretor no 30º Festival de Cinema de Gramado e “É Proibido Fumar” (2009) com Glória Pires e com o titânico Paulo Miklos nos papéis principais. “Eu acho incrível que os americanos tenham fórmulas que sustentem centenas de filmes numa qualidade média. Os filmes chamados hollywoodianos, aqueles nascidos para o “Box Office”, são filmes, em geral, de qualidade média, raramente são ótimos, mas raramente são péssimos. Então são eles que sustentam a indústria. Acho isso muito saudável para eles, talvez nem tanto para o resto do mundo. (…) Gosto de ler tudo o que se escreve para os meus filmes, sejam críticas ou blogs pessoais. Em geral, os críticos falam coisas interessantes sobre os meus filmes, e os blogueiros às vezes metem o pau. Eu acho divertido, mas dificilmente sou influenciada”, afirma a cineasta.

O cinema como é feito hoje está em extinção, pois, é preso às regras, estereótipos e mercado. Você considera isso um fato ou tem outra visão sobre este assunto?

A entrada dos piratas e a popularização da internet, está mudando a forma como se consome o cinema. Porém, acho que nunca na história da humanidade se viu tanta imagem em movimento.

Você costuma levar em consideração a análise dos críticos sobre os seus filmes?

Gosto de ler tudo o que se escreve para os meus filmes, sejam críticas ou blogs pessoais. Em geral, os críticos falam coisas interessantes sobre os meus filmes, e os blogueiros às vezes metem o pau. Eu acho divertido, mas dificilmente sou influenciada por isso.

É complicado fazer um filme que tenha uma visão de mundo profunda e que, ao mesmo tempo, seja comercial, não apelando para violência ou coisas do gênero?

Eu procuro fazer filmes que sejam divertidos e, ao mesmo tempo, que digam alguma coisa relevante. Acho que eu não saberia fazer diferente. Acho que, pra mim, não teria sentido fazer um filme sem humor ou que não diga nada.

O diretor Cláudio Assis disse recentemente que a família Barreto e que os diretores Cacá Diegues e Héctor Babenco, são os coronéis do cinema nacional. Você concorda com essa afirmação?

Cláudio Assis é, na minha opinião, a cabeça mais lúcida do cinema brasileiro hoje. Ele é o único que tem coragem de dizer o óbvio ululante.

Em “É Proibido Fumar” de 2009 e “Durval Discos” de 2002, a Classe média brasileira se viu nitidamente. Acredita que por isso os filmes foram tão premiados e elogiados na sua avaliação?

Não sei dizer se foi esse o motivo. Acho que a questão da música também agrada. E talvez a sinceridade das histórias ou o modo de filmar. Não sei.

Você disse em várias oportunidades que o longa “Amarcord” do italiano Federico Fellini, marcou a sua vida. Podemos dizer de certa forma que o que você procura fazer em seus filmes (que é de evidente caráter pessoal) vêm dessa influência?

Os filmes que vi no Cine Bijou na adolescência, entre eles “Amarcord”, mas também Polansky [Roman] e Bergman [Ingmar] me fizeram ter vontade de ser diretora de cinema. Mas desde então, muitas outras influências aconteceram. Em todo caso, ainda gosto de filmes que sejam sinceros e que mostrem o ser humano como seres multifacetados, com tristezas, alegrias, lados patéticos e lados sublimes.

Existe algo semelhante na linguagem do principal meio de comunicação do país (televisão) com o cinema, ou são coisas completamente diferentes?

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Existem lados comuns e lados diferentes. Na TV normalmente faço séries e as séries trabalham com a ideia de repetição e normalmente o conteúdo é mais superficial. No cinema a gente trabalha com a ideia da obra fechada, única e procura ir um pouco mais longe não apenas na dramaturgia, mas na direção principalmente. No cinema existe muito mais capricho. Mas em ambas as mídias, trabalhamos com os princípios básicos da dramaturgia e nesse sentido são muito parecidos.

O cinema uruguaio e argentino são bastante elogiados por realizadores de outros países, visto que em 2010, o filme “O Segredo dos Seus Olhos” do diretor Juan José Campanella, foi o vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro. Nós ainda estamos muito atrás dos nossos vizinhos, ou já estamos no mesmo nível?

Acho que somos povos diferentes e fazemos filmes diferentes. Acho que os argentinos são mais ligados em literatura do que os brasileiros e isso se reflete também no cinema deles. Acho que eles fizeram filmes excelentes e nós também. Mas na média, acho que o cinema deles é superior.

Qual a sua visão sobre o cinema hollywoodiano?

Eu acho incrível que os americanos tenham fórmulas que sustentem centenas de filmes numa qualidade média. Os filmes chamados hollywoodianos, aqueles nascidos para o “Box Office”, são filmes, em geral, de qualidade média, raramente são ótimos, mas raramente são péssimos. Então são eles que sustentam a indústria. Acho isso muito saudável para eles, talvez nem tanto para o resto do mundo.

O quão é importante as leis de incentivo fiscal para realização dos filmes nacionais?

São de suma importância. Praticamente todos os nossos filmes dependem delas.

Um filme premiado em festivais é sinônimo de sucesso com o grande público?

De maneira alguma. Festival é uma coisa e público é outra. Raramente um filme ganha nas duas pontas, o “Tropa de Elite” é um caso desses.

Por que é tão difícil fazer o cinema brasileiro se transformar em uma verdadeira indústria?

Porque ainda estamos começando e não há o ‘Know-how’ ou interesse para isso. Para um cinema ser industrial, a grande figura é a do produtor que sabe repetir fórmulas e entende deste cinema. O Daniel Filho, por exemplo, pratica um cinema industrial com garantia de público muito em parte ou talvez totalmente baseado na sua experiência com a indústria televisiva. O cinema industrial, como o cinema hollywoodiano, por exemplo, é um cinema de repetição. O cara vai ver o mesmo filme de novo, e de novo, e de novo…

Você acredita que a injusta divisão em salas de exibição, é o motivo principal para que o Brasil ainda não tenha mais pessoas indo aos cinemas para assistir aos filmes nacionais?

Esse é um dos principais motivos. A falta de verba para divulgação é outro motivo. Mas o principal motivo eu creio que seja mesmo a falta de salas no interior do país e também, o fato da distribuição estar nas mãos dos grandes tubarões, ou seja, as majors estrangeiras.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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