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Freddy Van Camp é tido como mestre do design

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O designer Freddy Van Camp é considerado por muitos, um mestre em sua profissão (algo que ele acha um completo exagero) acumulando prêmios em sua vitoriosa carreira. É formado pela Esdi (Escola Superior de Desenho Industrial) em 1968, com pós-graduação na UCLA-USA e na HfBK Braunschweig-Alemanha. Trabalhou em diversas empresas até estabelecer seu escritório VanCampDesign em 1980 do qual é sócio-fundador. Mudou-se para Campinas-SP de 1982 a 1992. Foi professor da UNICAMP de 1984 a 1992. Retornou ao Rio de Janeiro, onde residiu até 2013. Foi diretor da Esdi por dois períodos, de 1992 a 1996 e de 2000 a 2004 onde ainda leciona. Se dedica a projetos de produtos, de interiores, de embalagens, de exposições, de sinalização e de sistemas. É membro da ADP, ABEDESIGN e ADG. É autor e tradutor de livros sobre o assunto. “A cultura do design tem se firmado cada vez mais, mesmo sem apoio oficial ou institucional. Temos tido sucesso tanto na criação de produtos, como de mensagens e de sistemas de todo tipo que tem tido presença em nossa realidade. O design brasileiro tem hoje em dia grande reconhecimento internacional que se traduz por um interesse genuíno em produtos de nossa produção ou projeto. Há uma grande demonstração disso por meio da imprensa, de revistas especializadas além de interesse nas mostras de design que têm sido levadas ao exterior”, afirma.

Freddy, como é ser considerado o mestre de grandes e talentosos nomes do design brasileiro?

Me perdoe, mas acho esta afirmação um completo exagero! Se o que faço tem alguma importância para alguém já me satisfaz de alguma forma. Um amigo me diz que o que nos traz a experiência é o fato de termos errado mais, comparado com um iniciante. Mesmo assim a gente continua errando, porque continuamos tentando, sem parar, atingir um nível que satisfaça nosso espírito crítico com o design. Isso não significa muita coisa, pois, o espírito crítico de nosso interlocutor pode ser diferente. Aceitar essa diferença, e lidar com ela é que o grande desafio que a vida e a nossa profissão nos oferece.

Como enxerga o estágio em que se encontra o design nacional atualmente?

O design brasileiro não deve nada a ninguém, a não ser ao próprio país, onde deveria ser mais utilizado e valorizado. Somos criativos, preparados e eficientes, como pode ser constatado nas empresas multinacionais que nos empregam. O design brasileiro tem chamado a atenção e se sobressaído em prêmios internacionais como o iF, o Idea e o Red Dot, onde inúmeros projetos e produtos brasileiros têm sido premiados. Uma pena, na verdade, um absurdo, a atitude do Governo em ter interrompido o patrocínio ao envio de projetos para o iF, a partir de 2012. Foi um verdadeiro tiro no pé, um retrocesso incompreensível. Mesmo assim o Brasil foi nestes últimos anos o país mais premiado neste concurso, considerado o “Oscar” do design mundial. O design do Brasil está dando o que falar, a julgar pela participação de seus designers nestes anos em projetos de montadoras internacionais, na indústria da animação, de próteses ortopédicas, de fontes tipográficas digitais, de mobiliário de madeira, dentre outros. O Brasil tem exportado equipes inteiras de designers para empresas multinacionais, que os utilizam nas suas matrizes.

Há três anos, o senhor afirmou que o brasileiro deixava muito a desejar quando o assunto era a cultura do design. Essa cultura foi burilada em algum sentido de lá para cá?

A cultura do design tem se firmado cada vez mais, mesmo sem apoio oficial ou institucional. Temos tido sucesso tanto na criação de produtos, como de mensagens e de sistemas de todo tipo que tem tido presença em nossa realidade. O design brasileiro tem hoje em dia grande reconhecimento internacional que se traduz por um interesse genuíno em produtos de nossa produção ou projeto. Há uma grande demonstração disso por meio da imprensa, de revistas especializadas além de interesse nas mostras de design que têm sido levadas ao exterior. O Brasil tem tido grande sucesso também nos concursos internacionais, como já foi dito, por exemplo. A presença constante em eventos importantes tem alavancado negócios expressivos como na Feira de Milão onde temos sido reconhecidos em mostras como a Brazil S/A e a Rio+Design. O mesmo acontece em eventos em Miami ou Paris. Só isso já demonstra uma mudança substancial de nossa cultura em relação ao design.

Um produto extremamente bem-sucedido e criado pelo seu escritório, foi a Cadeira Delta. Como é ver um produto criado há mais de 20 anos se manter no mercado por tanto tempo?

Para mim, foi uma felicidade e uma honra, que o mercado tenha adotado este produto por tanto tempo. Devo isso também a empresa que reconheceu algum valor do design neste produto e o manteve no mercado por tanto tempo. Sei que isso não mais se repetirá, devido à efemeridade atual dos produtos que estão sendo produzidos. No ramo de cadeiras temos hoje um fenômeno que é a abdicação da produção e do design local, no caso dos assentos para escritório, em prol de uma importação de produtos mais baratos e de qualidade duvidosa. Mas quem sabe poderemos ter um retorno ao “sentar brasileiro”, preconizado pelo saudoso Sergio Rodrigues, ao invés das cadeiras chinesas descartáveis e de manutenção nula.

Qual a sua análise, da relação do quase extinto Ministério da Cultura (MinC) com o design brasileiro, já que é um dos mais competentes observadores desta questão?

O MinC foi fundamental, quando na administração Gilberto Gil reconheceu o design com fator de cultura. Nos deu a esperança de que, finalmente, o setor governamental reconhecesse o design, o que não vinha acontecendo até ali. A participação do design junto ao MinC tem sido intensa, com a criação do Setorial, que atraiu muitos designers de peso a contribuir para o nosso Plano Setorial de Design, recentemente aprovado. Este espaço político tem sido utilizado para fortalecer a área junto a cultura, ampliando assim a sua utilização neste setor. Com isso teremos melhores equipamentos culturais e seus produtos poderão ter mais personalidade e utilidade. Esperamos que esta política possa sobreviver as atuais mudanças no poder e que elas se solidifiquem em prol da imagem do Brasil, de que não somos um país de carnaval e futebol, apenas.

O que um designer fundamentalmente precisa, para adquirir habilidades práticas e materializar os seus trabalhos de uma forma única?

Um designer deve ter uma identificação profunda com o potencial de transformação que o design pode ter em nossa sociedade. Mas, antes de mais nada, o designer deve ter espírito crítico, acho isso fundamental. Ter uma boa formação também é essencial, não dá mais para ser autodidata na realidade complexa de nossa sociedade. O designer deve entender que as necessidades do homem neste século estão em constante transformação. Daí saber que é necessário, se fazer mais com menos, sem sacrificar a qualidade, especialmente as qualidades de sustentabilidade, de flexibilidade, de funcionalidade de nossa cultura material.

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Com mais de 47 anos na área, poderia nos dizer qual a principal mudança que o senhor viu ocorrer no design nacional, e que ainda fará ecos para as próximas gerações?

O design quando estabelecido no país tinha a finalidade de substituir importações, criando produtos mais adequados que ampliassem a produção nacional de bens duráveis, melhorando a balança comercial. Depois de algum tempo, com a produção mais estabelecida passou a evoluir para uma situação de substituição de exportações com o estabelecimento de que tínhamos que exportar valor agregado a matéria-prima eminentemente nacional, o que nunca conseguimos plenamente, devido a inúmeras crises da nossa economia. Exceto no caso de produtos aeronáuticos ficamos a desejar neste item. Hoje estamos no limiar de exportar inteligência, já que os meios de produzi-la estão ao nosso alcance. A tecnologia da informação está ao nosso dispor e se o grande capital, ou a nossa própria incompetência gerencial e política não nos impedir poderemos com o design alcançar facilmente este objetivo.

No ano de 2015, durante a sua curadoria na Bienal Brasileira de Design em Florianópolis (SC), o senhor afirmou algo que acha de suma importância, que é a democratização do design. Como estruturar esta democratização para que ela caminhe de uma forma perene?

Para o caso específico do nosso país, o design deve ser entendido como um direito de qualquer cidadão e não apenas dos privilegiados, dos mais abonados ou dos entendidos no assunto. O tema da Bienal era “Design para Todos”o que ainda é pouco compreendido entre nós, especialmente para as classes menos favorecidas. Hoje em dia com a crise nossos designers perseguem, cada vez mais, o produto de pequena série ou exclusivo, ou assinado, como forma de sobrevivência, pois, com o esvaziamento da economia foi o que lhes sobrou. Temos que entender que design é para todos, pois, com design se vive melhor. E é disso que precisamos. Acredito que o designer deve ser formado com estes princípios e não como uma atividade para diletantes.

Outra coisa dita pelo senhor no mesmo ano, é que pouco foi feito pelo design brasileiro em termos de institucionalização, mesmo com 50 anos de história. Por que o senhor acredita que isso ocorreu?

Muitas instâncias foram criadas ao longo destes 50 anos e que se arvoraram a ser “a instância oficial” do design no país. Associações de profissionais, de docentes, Design Centers, centros de promoção, programas federais, programas estaduais ou mesmo municipais, além de divisões em entidades patronais. Poucas restam ou tiveram a sobrevida de dois, ou três Governos, ou períodos. Há um grande desânimo reinante no meio profissional, mesmo com o envolvimento de alguns Ministérios na área.

Tivemos um grande revés com a não aprovação do Projeto de Regulamentação da Profissão de designer, mesmo tendo chegado tão perto. Isso mostrou mais uma vez que o design não tem a importância que deveria para a nossa classe dirigente. O Brasil demonstra que pode deixar de ser um “player” importante no comércio mundial, reduzindo-se a um exportador de “commodities” e não de produtos industrializados, reais ou virtuais e de maior valor agregado.

A regulamentação, na minha opinião, seria o coroamento da institucionalização do design no país. Fortaleceria a presença do designer como fator diferencial e elemento fundamental em nossa economia. Essa presença não se limita aos setores produtivos. Mesmo na esfera pública o designer tem grande contribuição a dar, nas municipalidades, estados ou Governo Federal. A eventual interpretação de que o PL (Projeto de Lei) pretendia estabelecer uma reserva de mercado para os designers é inteiramente equivocada. Queremos apenas ter os mesmos direitos de outros profissionais de forma a que sejamos uma profissão plena. Esperamos que no futuro próximo tenhamos maior participação dos profissionais e dos estudantes no apoio a esta demanda, tão importante. Somente as novas gerações é que serão beneficiadas por ele.

Qual o peso do design como fator comparativo de um produto em uma competição industrial?

O design é hoje o único fator diferencial disponível na competição industrial e especialmente na concorrência internacional. O preço que sempre foi importante esta indo para um segundo plano. Não há como ser mais barato que o mais barato. Até os chineses já descobriram isso. Os dispêndios de matéria-prima e de mão de obra, desde que não seja escrava, tendem a se nivelar. Daí que o fator criativo, funcional, cultural, de adequação, passa a fazer diferença. Com a virtualidade que hoje esta cada vez mais presente em nossas vidas o diferencial criativo passa a ser o único disponível.

Além disso, neste mundo virtual em que vivemos é possível de ser exportável pela internet, sem gastos de transporte, de matéria-prima, de danos ao Meio Ambiente, é valor puro! Pense em fontes tipográficas digitais, por exemplo, em produtos a serem executados sob licença, em outras economias, em produtos de entretenimento, como animações, para o lazer ou o treinamento. São fontes de riqueza onde o design é fundamental.

O que um jovem que se interessa e quer ingressar na área do design, precisa ter em mente, para fazer uma carreira tão vitoriosa como a sua?

O profissional recém-formado deve procurar viver o máximo de experiências diversificadas possível, a meu ver. Isso pode se iniciar ainda antes de se formar, fazendo estágios variados com bons profissionais e construindo assim um bom portfólio. Este será definitivo para abrir novas portas no futuro e deve incluir todos os projetos executados, com qualidade é claro, desde a faculdade. Deve se evitar a especialização precoce, deixando isso para uma fase mais tardia da carreira. A vida vai lhe conduzir para uma especialização, mas ele deve ter controle sobre isso, sem se deixar arrastar pelas circunstâncias. Assim poderá ter prazer no seu trabalho, o que é fundamental.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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