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Marcus Matta analisa os problemas do tabagismo

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Em 2002, Marcus Matta apresentou no 1º workshop de avaliação global do mercúrio, a primeira base de dados nacional desenvolvida para o Governo, visando informação de segurança química para atendimento de emergências. A partir desse evento, esteve inserido em diversas discussões regulatórias. Essa dedicação às consultorias desafiadoras em segurança química e liderando equipes multidisciplinares, foi a sua principal formação empresarial. Na academia, complementou essa formação obtendo títulos importantes para garantir o entendimento holístico dos desafios do setor, passando de aprendiz a professor. Na formação empresarial destaca-se a graduação em Turismo, que em sua opinião, é a melhor formação para compreender a relação com os clientes. Complementando essa formação, gradou-se em Engenharia Ambiental com habilitação em Química, além de se doutorar em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP, no departamento de Patologia, trabalhando com ecotoxicologia. Em 2014, decidiu fazer uma mudança grande, deixando a empresa que havia fundado e abrindo uma nova com os profissionais seniores que atuavam na organização. Iniciou a Ecoadvisor e buscou parceiros internacionais para ganhar a robustez necessária ao mercado nacional. No fim de 2015, iniciou o escritório da Lisam Ecoadvisor Systems do qual é CEO. “A Saúde Ambiental permeia todas as necessidades para a sustentabilidade.”

Marcus, gostaria que falasse um pouco do seu trabalho como consultor de políticas públicas em Saúde Ambiental.

Atuar como consultor de políticas públicas em Saúde Ambiental sempre foi muito desafiante, tive diversas participações coordenando consultores em projetos da agenda ambiental.

O último projeto que realizei foi a Avaliação Socioeconômica de ações para implementação da Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes. Foi publicado no evento realizado pelo Ministério do Meio Ambiente em 2015, “Seminário sobre tratamento de PCBs e outros POPs da Convenção de Estocolmo”, onde avaliamos o custo da ação, versus a não ação, da implementação de ações de controle ambiental. O quanto de investimento em uma tecnologia reduz o custo social das doenças na população.

Outro projeto que colaborei por muitos anos, mas que ainda não foi implementado no país, foi o Registro de Emissão e Transferência de Poluentes, nosso RETP. Infelizmente o Brasil não ratificou a Declaração de Maastricht, então, o programa é tratado dentro de outras demandas internacionais, como Convenções de Estocolmo, da Basiléia e de Minamata. Este protocolo tem como objetivo disponibilizar publicamente informações sobre as emissões de poluentes, visando fortalecer a participação pública e verificar o desempenho global da sustentabilidade, uma vez que a poluição é transfronteiriça, e tecnologias poluidoras podem migrar para países com menores exigências regulatórias.

Como o assunto Saúde Ambiental vem sendo tratado em nosso país?

Temos no Brasil, cientistas e pessoas qualificadas para tratar o assunto Saúde Ambiental, mas temos uma defasagem enorme quando pensamos na distribuição geográfica desses profissionais, centralizados em alguns estados, centros urbanos e universidades.

Quando pensamos na implementação deste tipo de programa, o assunto deve ser tratado como um eixo principal do planejamento estratégico urbano e ambiental, pois, a Saúde Ambiental permeia todas as necessidades para a sustentabilidade, em especial a garantia da qualidade de vida, alimento, moradia, saneamento, etc. No meu entendimento, falta sinergia e diálogo entre as políticas, para unificar os esforços de comando e controle de forma simplificada, ao mesmo tempo que se encoraje e ofereça vantagens fiscais, tributárias e taxas menores para empresas que introduzem tecnologia limpas, pois, esses investimentos revertem numa economia social, da prevenção de doenças da população, em geral.

Quais são os principais fatores de risco para a vida e saúde da sociedade brasileira atual?

Quando pensamos em fatores de risco, em uma perspectiva toxicológica, temos dois fatores principais, o perigo, e a exposição aos agentes químicos. A partir da década de 70, com a própria convenção de Estocolmo, tivemos o início da regulamentação global de controle de substâncias químicas, pois, estávamos utilizando substâncias que não degradavam no ambiente e geravam danos a longo prazo. As substâncias químicas possuem ciclos de vida e destinos no ambiente diferentes, quando avaliamos essas características, conseguimos identificar cenários de exposição e o grau de risco.

O risco está associado diretamente à exposição, e todos estamos expostos diariamente à diversidade de substâncias químicas, na nossa água de consumo humano, como descrevemos no capítulo “Contaminantes emergentes e a integridade dos recursos hídricos”, nos nossos alimentos que contém resíduos de defensivos, como abordamos no Observatório de Saúde Ambiental, no ar que inalamos, onde temos a poluição atmosféricas de diversas fontes. O tabagismo, diferente deste contexto de exposição difusa ambiental, é uma fonte primária de exposição, que representa o maior risco à saúde e propicia o maior incremento no número de anos de vida perdidos por morte prematura e anos vividos com incapacidade.

A prevenção para esses fatores de risco está sendo adequada?

Infelizmente o nosso país ainda está na era da escuridão e sempre décadas atrasado em relação a outros países na adoção de algumas políticas de Saúde Ambiental. No âmbito do tabagismo, considero uma exceção, pois, o Brasil mostrou um dos melhores desempenhos globais na redução de fumantes, chegando ao patamar atual de cerca de 11% da população. Os pontos críticos desta era da escuridão da Saúde Ambiental, atribuo a falta de informações públicas e de qualidade sobre o perigo e exposição aos agentes químicos, que colabora com o estabelecimento de uma sociedade alienada aos riscos toxicológicos.

Quando ocorreu o acidente de Bhopal na Índia em 1984, a reação imediata dos Estados Unidos foi de se perguntar, será que temos um Bhopal no país? E criaram a lei de acesso à informação, onde todas as empresas tinham que declarar seus processos industriais, suas matérias-primas, seus produtos, suas emissões e transferências de poluentes, o Toxic Release Inventory. Ou seja, o direito do cidadão em saber e entender o grau de risco de morar em um bairro ou cidade, cuja disponibilidade de informação é uma realidade em mais de 20 países. Outra política é o inventário nacional de substâncias químicas, hoje não sabemos o que e quanto de substâncias químicas são utilizadas no país. Para mim, esses dois programas podem avaliar de forma realística a qualidade ambiental, acompanhar o progresso e subsidiar ações locais de saúde ambiental.

Gostaria que o senhor destacasse as principais tecnologias para a redução de risco à saúde que temos disponível no momento.

Gosto de destacar uma diferença crucial em termos de tecnologia para redução de risco à saúde, temos a tecnologia de produção mais limpa e as tecnologias de fim de tubo. A produção mais limpa é uma forma de atender a um mesmo objetivo, sem a geração ou redução de substâncias nocivas, seja pela mudança de insumos, ou de processos. A tecnologia de fim de tubo é aquela que após a geração do poluente, ela objetiva a redução da liberação para o meio e consequentemente a redução da exposição.

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Por exemplo, no caso das emissões de dioxinas e furanos, uma medida fim de tubo é a implementação de precipitador eletrostático na sinterização do minério de ferro, a de produção mais limpa é o monitoramento da qualidade dos insumos do processo, para evitar a formação desse poluente. No caso do consumo de cigarro, poderia dizer que desenvolver um filtro melhor para reduzir a exposição aos agentes cancerígenos, ou medidas de proibição de consumo de cigarro em locais públicos, para não haver fumante passivo, são medidas fim de tubo. No caso, a produção mais limpa seria disponibilizar uma tecnologia que minimize a formação destes agentes nocivos na fonte, como as tecnologias de tabaco sem combustão. Em todos os casos, sempre o melhor é o desenvolvimento de tecnologia que na origem minimizam a formação de compostos nocivos, que pode ser combinada com outras tecnologias.

A OMS (Organização Mundial da Saúde), afirmou que a pobreza, o uso irracional dos recursos naturais e a economia não sustentável, são os principais fatores de risco para a saúde humana. Em sua visão, qual dos três é mais preocupante e por quê?

A meu ver, o uso irracional dos recursos naturais é a principal preocupação para o futuro da nossa civilização. Os dados de consumo e crescimento demográfico apontam para cenários catastróficos nas próximas décadas, com ponto de inflexão para a falta de água e alimento, que facilmente podem culminar em desastres, como o ilustre Lester Brown [analista do ambiente que já escreveu vários livros relativos ao ambiente global. É o fundador e presidente do Earth Policy Institute, organização não governamental baseada em Washington, DC., 1934 – ] vem destacando nas suas publicações. Na minha opinião, por vivermos na era da escuridão, não temos massa crítica participativa suficiente para mudar os rumos destes cenários, o meu papel tem sido gerar conteúdo e disseminar informações para colaborar com a gestão segura de produtos químicos.

Como enxerga o debate do tema Saúde Ambiental na mídia brasileira?

Para mim, a mídia se relaciona diretamente com os interesses das fontes, ou seja, publicamos e falamos o que as pessoas querem saber e ler, conforme o público receptor. Grande parte da população é alienada em relação às informações de Saúde Ambiental, que mesmo quando disponíveis, poderiam ser trabalhadas pela mídia, para formar massa crítica, objetivando a compreensibilidade das mensagens aos diferentes púbicos.

Minha percepção é que a mídia elege problemas e dissemina, como ocorrência de agrotóxico em alimentos, o ozônio no inverno relacionando ao aumento de doenças respiratórias, o mercúrio no peixe, mas, a meu ver, faltam profissionais preocupados em uma orientação holística do problema, e temos enfrentado problemas de comunicação de risco por parte da mídia, que por ter alta credibilidade com a população, criam cenários de risco diferentes daqueles promovidos pelos especialistas. Digo isso dentro do contexto de comunicação de risco de áreas contaminadas, que venho colaborando com o desenvolvimento de uma norma nacional.

Vamos falar em tabagismo. Hoje ele se tornou um problema social muito maior que há décadas atrás, ou isso já existia com o glamour das propagandas que trouxeram charme para algo nada charmoso?

O problema do tabagismo é antigo, porém, medidas de controle do tabagismo colocadas em funcionamento desde o final dos anos 1990, trazem boas notícias para o Brasil que, entre 1990 e 2015 conseguiu reduzir a porcentagem de fumantes diários de 29% para 12% entre homens e de 19% para 8% entre mulheres.

Quais os números mais assustadores dos problemas causados pelo tabagismo na população global?

Dados da Organização Mundial da Saúde apontam que o cigarro mata cerca de 6 milhões de pessoas por ano. O mesmo órgão vislumbra que em 2030 ainda haverá mais de 1 bilhão de fumantes em todo o mundo, apesar de todos os esforços de saúde pública. Por isso eu penso que a política de redução de danos é uma opção complementar as políticas de controle do tabagismo.

As estratégias para o combate ao tabagismo, têm falhado em que pontos?

As estratégias de combate ao tabagismo têm mostrado uma redução significativa no número de consumidores de cigarro, chegamos no patamar de 11%, que é muito positivo dentro do cenário global. Infelizmente a dependência química gerada pela nicotina, torna esse desafio ainda maior para reduzir esses índices, por isso acredito que tecnologia de risco reduzido pode ser uma boa oportunidade para minimizar os efeitos à saúde desta população.

O que o senhor espera da mesa de debate na SBTox, que terá como tema “O controle do tabagismo: presente e futuro” em 8 de junho próximo?

O evento vai focar em redução de danos no tabagismo. Se temos hoje 11% de pessoas com hábito de fumar, quais as estratégias para reduzir esse número e quais as alternativas para a população com esse hábito, que reduziriam o risco à saúde. Na minha palestra, vou falar sobre tecnologias de risco reduzido, e, pretendo apresentar dados secundários sobre as evidências toxicológicas da tecnologia de tabaco aquecido, ainda não regulamentada no Brasil, mas com estudos publicados em diversos países, e que por ser uma tendência de futuro, precisa ser discutida no âmbito acadêmico as evidências da redução de danos à saúde, para quem tem o hábito de fumar e para o fumante passivo.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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