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O processo é fundamental para Nina Becker

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Nina Becker é cantora, compositora e cenógrafa. Teve aulas de violão, piano e canto antes de optar pelo curso de design, que a levou a trabalhar como cenógrafa. Quando foi chamada para integrar os vocais da ainda desconhecida banda Orquestra Imperial, em 2002, dividiu os palcos com o cargo de diretora de arte de uma produtora de cinema. Paralelamente ao trabalho com a Orquestra Imperial, iniciou carreira solo em 2004, e fez seu primeiro show, ao lado de Gabriel Bubu (guitarra), Gustavo Benjão (guitarra), Marcelo Callado (bateria) e Ricardo Dias Gomes (baixo), que formam a banda Do Amor. Participou de vários shows colaborativos, como os do projeto 3NaMassa, de Rica Amabis (do coletivo Instituto), Pupillo e Sucinto Silva (ambos da banda Nação Zumbi). Sua atuação lhe rendeu o Prêmio APCA de melhor cantora em 2009, um ano antes do aparecimento de seus primeiros discos, “Azul” e “Vermelho”, produzidos por Miranda. Lançados juntos, em 2010, também marcam sua estreia como compositora. Com outras cantoras de sua geração, participa dos álbuns “Literalmente Loucas” (2011), com músicas de Marina Lima, e “Mulheres de Péricles” (2012), que recupera a obra do compositor Péricles Cavalcanti. Com o ex-marido, Marcelo Callado, lança o disco “Gambito Budapeste” (2012). Seus álbuns mais recentes são “Minha Dolores – Nina Becker Canta Dolores Duran” (2014) e “Acrílico” (2017).

Nina, em que momento a arte deve exercer um papel social?

A arte por si só já exerce um importante papel social. Ela é um espelho da sociedade e revela sua complexidade, suas crises, sua cultura, desperta a reflexão, amplia o olhar. Um dos deveres sociais de uma sociedade deveria ser reconhecer e promover a produção de arte para que essa sociedade seja plena.

Em que instante da sua vida isso se tornou mais notório?

Não sei se entendi ao que você está se referindo, mas não vejo o meu trabalho como notório, ainda mais nessa época atual em que as medições contemporâneas são absolutamente relativas. Quanto ao papel social, cada artista tem uma maneira particular de afirmar, defender ou atuar em alguma instância que reverbere em causas sociais, e isso não acontece necessariamente a partir de um discurso explícito. No meu caso, eu me sinto compelida a tratar de certas questões, mas as trato com a delicadeza que, em geral, faz parte das minhas construções, desde os meus primeiros discos.

O seu modo de encarar o seu ofício, veio mais de experiências externas ou de reflexões internas?

Acho que todo fazer artístico é um bololô de pensamentos, emoções e acúmulos de experiências, vivências que resultam em algo que contém essas duas dimensões e, certamente, outras mais.

A música foi considerada a alma da geometria pelo poeta francês Paul Claudel. O que a música significa para a sua existência?

Curiosamente eu sempre fui péssima em matemática e ótima em geometria. Acredito que porque, assim como a música, o desenho e a pintura, a geometria é a apresentação formal de uma composição. Quando chegamos a uma abstração tão grande que o corpo não consegue mais sentir, como a matemática pura, eu já não dou conta. Preciso de uma forma, de sentir com o corpo, para compreender aquilo ali. A música é para mim uma forma de acessar outros mundos dentro do meu próprio mundo, uma forma de projeção nutritiva e renovadora.

O que a sua discografia traz em comum e que só você vê?

Acho que todas às vezes que faço um disco me imagino cantando as músicas bem perto do ouvido das pessoas, numa tentativa de chegar mais perto do coração delas, algo que eu não seria capaz de fazer gritando, não tenho estrutura para isso, então, tenho como arma a tal delicadeza.

“Azul” é considerado um disco excelente pela crítica. Existe dor no caminho dessa excelência?

Quando lancei o “Azul” e o “Vermelho” recebi uma atenção grande da imprensa e das pessoas. Muitas interessadas em questionar o fato de eu ter feito dois discos. Hoje eu vejo que não tinha como ter sido diferente, mesmo que eu tenha decepcionado parte de um público que não suporta ouvir músicas calmas e preferiria que eu tivesse juntado o Azul e o Vermelho em um disco só. Não tenho condições emocionais para formatar meu trabalho em função do que o público vai preferir ou do que poderia fazer mais sucesso.

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Você também experimenta bastante em seus trabalhos. Por que você acredita que experimentar é fundamental para uma carreira musical?

Isso não é uma crença, mas uma necessidade. Não acho que é preciso ser assim com todo mundo. Não sei em que contexto eu disse isso, mas talvez tenha sido pelo fato de que eu sou muito ligada ao processo. O resultado me satisfaz, mas me realizo muito mais no processo, pois, nele eu aprendo e incorporo coisas novas. Sinto que essa é a minha maior motivação na vida, aprender. Nunca vou conseguir falar sempre do mesmo assunto nem da mesma forma, quero conhecer as milhares de outras que também existem por aí.

Qual a principal característica que o álbum “Vermelho” tem e que não foi dito ainda por ninguém?

Faz muito tempo que eu não escuto esse álbum. Ele foi muito recomendado e estava em todas as listas de melhores discos daquele ano, mas na última vez que ouvi achei que talvez seja o meu álbum mais fraco, porque o repertório não era muito sólido. A gente chegou e gravou as canções que tocávamos nos shows, sem muito critério na seleção. Na verdade, acho que isso que eu vejo hoje como um defeito, é também uma qualidade, pois, tem o frescor de não ter sido muito estudado nem construído, ele é o que é, aquele momento rápido no estúdio e pronto.

“Acrílico” pode ser considerado o seu disco mais envolvente?

Não me sinto capaz de opinar sobre isso, inclusive porque não tenho o hábito de ficar ouvindo meus próprios discos.

Muitos designers dizem que o elemento que não pode faltar em uma cenografia é a poesia. Como você encaixa essa poesia cenográfica em suas canções?

Eu sou uma cenógrafa-cantora e para mim a forma como essas ideias surgem e se desenvolvem é muito parecida. O que me motiva é a busca da beleza, mesmo que ela esteja escondida atrás de uma feiura, que ela esteja disfarçada de outra coisa, que ela finja que não está muito ali, espero sempre que ela, de alguma forma, dê o ar da sua graça.

Você tem um talento indiscutível. Por que não se aceitava como cantora?

Uma coisa é você ter o desejo e o prazer de levar um repertório a um público. Quando comecei a participar da Orquestra Imperial, em 2002, o meu propósito principal era a pesquisa de repertório. Não me sentia profissionalmente uma cantora, mas uma pessoa que estava ali para agregar àquele grupo uma porção de coisas. Aos poucos fui me desenvolvendo e sentindo que estava me tornando uma intérprete, e esse sentimento é muito diferente. Foi graças a ele que fiz o meu disco em homenagem à Dolores Duran. Sem esse sentimento, certamente eu não teria tido essa coragem.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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