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Rafaela Vitória analisa os cenários econômicos

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Em abril, a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, via uma crise “sem precedentes” e um desemprego de até 15% no pico da crise. A falta de trabalho é maior nos setores de serviços e comércio e atinge de maneira mais significativa o trabalhador informal. Algumas classes têm maior proteção, como o serviço público — dizia no período a economista, que via espaço para o início da queda na taxa de desemprego no país a partir do segundo semestre. Além de economista do Banco Inter, Rafaela foi diretora da Standard &Poor’s e sócia da Sonar Investimentos. Atualmente, é professora na PUC Minas e na Fundação Dom Cabral. É mestre em finanças corporativas pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e pela The WhartonSchool da Universidade da Pennsylvania. Para o portal Panorama Mercantil ela afirma: “Uma dívida de 100% do PIB não é sustentável para um país emergente. Apesar dos juros baixos no curto prazo, a curva de juros inclinada destaca bastante o risco fiscal e como o custo dessa dívida será insustentável nos próximos anos. O Governo já sinaliza que trabalha para retomar o controle de gastos a partir de 2021 e que a aprovação de novas reformas, como a tributária, são fundamentais para contribuir na melhora do equilíbrio fiscal. Não necessariamente precisamos aumentar a carga de impostos nesse momento, mas sua melhor distribuição e melhor eficiência podem beneficiar o crescimento econômico”.

Rafaela, como vislumbra a economia do Brasil no pós-Covid-19?

Nosso cenário contempla uma recuperação gradual, já iniciada no 2º semestre de 2020. Mas essa recuperação não deve ser linear e nem igual para todos os setores. Alguns setores lideram essa recuperação, com uma maior facilidade de se adaptar as novas condições impostas pela pandemia, como os setores de tecnologia, varejo online, agronegócio e construção. Por outro lado, alguns segmentos de serviços devem demorar mais para retornar, como setores ligados ao turismo, eventos e lazer.

Como analisa o trabalho da equipe econômica do Governo Bolsonaro durante a crise?

A equipe econômica apresentou adequadas medidas de combate a crise, a aprovação e execução foi relativamente positiva considerando o quadro de gravidade e a urgência que foi necessária. As medidas de liquidez para o sistema financeiro, redução de juros e linhas extraordinárias de crédito foram boas respostas da política monetária. Do lado fiscal, o auxílio emergencial e medidas que flexibilizaram os contratos formais de emprego também tiveram impacto positivo.

Várias empresas foram salvas pelo Estado na crise de 2008. Isso deve acontecer novamente?

A capacidade do Governo e do BNDES de conceder crédito as empresas está bem menor hoje, considerando o atual déficit fiscal e o crescimento da dívida. Além disso, a atual equipe econômica tem uma postura mais liberal que a do Governo em 2008, portanto, acredito que as interferências serão bem menores e pontuais. Por exemplo, o setor aéreo, fortemente atingido pela crise, pode receber alguma ajuda direta.

Teremos um forte aumento de gastos em sua visão?

Sim, caminhamos para ter um déficit fiscal de 10% do PIB, após 4 anos de esforço de controle dos gastos. No entanto, a maior parte tem caráter temporário no apoio à queda de renda e da atividade, principalmente das famílias mais atingidas, devido à crise causada pela pandemia, portanto, esse gasto foi necessário. A recomposição da renda nesse momento tem um papel fundamental para estimular a retomada do crescimento no curto prazo, e já vemos o resultado no crescimento das vendas do varejo em maio e junho.

O maior desafio que teremos no futuro é a estabilização da dívida?

Sem dúvida. Uma dívida de 100% do PIB não é sustentável para um país emergente. Apesar dos juros baixos no curto prazo, a curva de juros inclinada destaca bastante o risco fiscal e como o custo dessa dívida será insustentável nos próximos anos. O Governo já sinaliza que trabalha para retomar o controle de gastos a partir de 2021 e que a aprovação de novas reformas, como a tributária, são fundamentais para contribuir na melhora do equilíbrio fiscal. Não necessariamente precisamos aumentar a carga de impostos nesse momento, mas sua melhor distribuição e melhor eficiência podem beneficiar o crescimento econômico, o que contribui para a redução do déficit, combinado com a manutenção do teto dos gastos.

A inflação preocupa?

Ainda não. Apesar da alta do IPCA em junho e também já observada nos dados preliminares de julho, ainda se trata de um movimento temporário de ajuste dos preços, principalmente seguindo a desvalorização cambial que tivemos nos últimos meses. Com o elevado desemprego e alta capacidade ociosa na economia, a inflação deve continuar dentro da meta, permitindo a manutenção de juros menores no curto e médio prazo. No entanto, com os primeiros sinais de retomada, não acredito que haja mais espaço para redução na Selic, e o BC deve parar em 2,25%.

Será difícil vermos o dólar sendo negociado abaixo dos 5 reais novamente?

A queda dos juros no Brasil levou o câmbio para um novo patamar, que no atual cenário parece tentar encontrar um equilíbrio entre R$5,00 e R$5,40. Uma recuperação mais vigorosa da economia brasileira e o controle do déficit fiscal poderia levar o câmbio de volta para abaixo de R$5,00, mas esse seria um cenário mais otimista.

As fintechs levam vantagem nesse “novo mundo” que se estabelecerá?

Com certeza. A pandemia acelerou bastante o uso de novas tecnologias em vários segmentos da economia, principalmente o financeiro. Não somente pela agilidade na implementação de novos métodos e ideias, as empresas focadas em tecnologia capturam melhor a busca dos clientes por serviços digitais, que são mais eficientes e de menor custo.

Existe um patamar de juros ideal para o país?

Acredito que o processo de reformas iniciado no último Governo contribuiu para uma redução no nosso patamar de juro neutro, que hoje está em torno de 2,5% a 3%, comparado com 6% a 7% no período de 2000 a 2015. A manutenção ou até mesmo uma nova redução nessa taxa vai depender da continuidade da busca pelo equilíbrio fiscal e controle da trajetória da dívida pública.

Acredita que teremos uma maior oferta de crédito num curto prazo?

Os juros menores já são um estímulo à maior oferta de crédito no país. Um exemplo foi o crescimento do mercado de capitais em 2019 e que continuamos a ver em 2020, mesmo com a crise. Os investidores, que antes tinham juros maiores em aplicações tradicionais de renda fixa atreladas a títulos públicos, hoje buscam novas opções de investimento que remunerem melhor, incluindo crédito privado, por exemplo. O sistema financeiro também possui uma adequada capacidade para ampliar a oferta de crédito no período de recuperação econômica, considerando uma situação de folga nos índices de alavancagem e boa margem de liquidez.

A retomada da economia no país será lenta. Existem regiões que podem sofrer mais que outras?

A retomada será gradual e dependente do processo de abertura da economia, que por sua vez, depende do controle da pandemia. Esse controle parece não ser homogêneo entre as regiões do país. Portanto, nos locais onde a pandemia estiver mais bem controlada, podemos ter uma recuperação econômica mais rápida que outros que ainda precisam de controles e fechamentos parciais de atividades.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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