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Siegbert Zanettini faz pensar na arquitetura

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Siegbert Zanettini destaca-se no cenário da Arquitetura Brasileira por uma postura de investigação e pesquisa no processo de industrialização, não hesitando em incorporar novidades tecnológicas aos seus projetos. É professor da Disciplina de Projeto na FAU-USP e tem vários trabalhos publicados, entre eles o Plano Diretor de Campinas. Um dos destaques em seus projetos é o uso do aço como sistema construtivo sendo, inclusive, considerado atualmente o mais importante arquiteto brasileiro no campo de projetos em estrutura metálica. Não é à toa que foi premiado pela Associação Brasileira de Construção Metálica (ABCEM) com o título de Personalidade da Construção Metálica por seu papel na difusão do aço na construção civil brasileira. Zanettini é formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Pertence à primeira geração de Professores Doutores da Universidade de São Paulo, tendo defendido em 1972 a tese de doutoramento intitulada “Habitação: Implicações do Processo de Industrialização”. “Em todas as obras a nossa postura é sempre crítica quando terminada. No entanto, pela dedicação, profundidade e rigor no projeto a reação que normalmente temos com as mesmas é de alegria, emoção e agradecimento pelos elogios que recebemos de usuários, diretores e construtoras responsáveis pelas execuções e pela excelência resultante”, afirma o arquiteto.

Goethe dizia que a arquitetura é a música petrificada. Como o senhor classificaria a arquitetura de modo geral?

Em minha tese de Livre Docência na FAU-USP em 2002 um dos objetivos era demonstrar uma análise de toda a minha experiência de 42 anos como profissional e 40 anos como docente no Departamento de Projetos da FAU-USP.

Como precursor da ecoeficiência no país desse 1974 e como pioneiro no uso do aço na arquitetura também dessa época, com várias teses de pós-graduação na década de 60 e pertencente ao primeiro grupo de arquitetos com doutoramento em 72, desde essas décadas e concomitantemente a outros arquitetos no exterior vinha criticando o envelhecimento da arquitetura moderna.

Essa tarefa de definir a minha arquitetura nas três décadas finais do século passado aprofundei os meus estudos e indagações nas áreas científicas das ciências humanas, biológicas, ambientais, exatas e econômicas e observei com acuidade as experiências de Richard Rogers e Renzo Piano com a proposta do Centro Pompidou, o que me levou à sua inauguração em 77, assim como a conhecer os projetos exemplares de Norman Foster, Santiago Calatrava, Dominique Perrou desse período.

Via nos trabalhos deles uma identificação conceitual e experimental com meus projetos tanto nos conceitos integrados de arte e técnica, como na experimentação de materiais industrializados, e na importância dada ao meio ambiente que passei a considerar como estrutural na arquitetura, na conceituação científica e experimental de produção industrializada e em várias análises e considerações de abordagem teórica sobre a produção contemporânea que culminou na minha definição, hoje bastante conhecida: “Arquitetura é o resultado físico-espacial do encontro equilibrado e harmônico de dois mundos, o mundo racional e o mundo sensível”. Essa tese entusiasmou a editora da Universidade de São Paulo a produzir o livro: “Siegbert Zanettini, Arquitetura Razão Sensibilidade”, Edusp, 2002. Nela abordo todos os conceitos citados e mais aprofundados que definem a arquitetura contemporânea.

E como classificaria a sua arquitetura?

Arquitetura contemporânea com desenvolvimento holístico e teórico-científico baseado em pesquisas contínuas e sistêmicas.

Quais os principais desafios da arquitetura contemporânea no século XXI?

Podemos relacionar alguns:

Superar a pobreza arquitetônica de mercado vigente. A quase totalidade da arquitetura produzida em edifícios habitacionais repetem à exaustão sistemas construtivos de 50 anos, com soluções repetitivas atendendo a modismos clássicos para as faixais A e B tipo “varanda gourmet”, e outro nomes pomposos. Na faixa C os apartamentos com suítes de 40, 50 e 60 metros quadrados, numa repetição exaustiva imposta pelo alto custo das unidades. Nas faixas D e nas mais periféricas, o atendimento estatal tipo “Minha casa, Minha vida”, de extrema pobreza urbanística e arquitetônica, numa padronização equivocada de implantações e soluções construtivas;

Introduzir o mais possível a produção industrializada que obedece à normas e a um controle produtivo mais eficiente, mais rápido e mais limpo, substituindo o tradicional canteiro de obras por canteiros de montagem de sistemas industrializados, com controle de qualidade dos componentes construtivos que a obra convencional não tem;

A mudança estrutural na política dos órgãos federais e estatais com relação aos programas habitacionais pobres de conteúdo desatualizados, teóricos e produtivos distantes da produção contemporânea de vários países e presos a uma arquitetura moderna como mais um estilo;

Uma importante transformação nos ensinos de arquitetura e engenharia, ainda separados, com ausência de pesquisa e estruturas programáticas desintegradas das ciências humanas, exatas, ambientais e econômicas;

A instalação urgente nas políticas federais, estaduais e municipais de uma visão metabólica das cidades para estendê-las este século e superar o estado deplorável de nossas periferias, favelas e ocupações, com soluções urbanas e arquitetônicas mais humanas e sustentáveis.

A sua arquitetura é dada com experiências, principalmente com o aço. Em que momento essas experiências se tornaram uma de suas grandes motivações?

As contribuições recíprocas da integração de 60 anos de profissão e 40 anos de ensino, não separando estudos, pesquisas, teses e participações culturais diversas com reflexões, textos, e projetos efetivados unindo conhecimento e prática, e vice-versa, marcaram uma trajetória de experiências com estruturas metálicas pioneira desde a década de 70, na formulação de conceitos sobre essa tecnologia traduzidas em obras emblemáticas dentre as quais que posso citar:

A primeira fábrica totalmente metálica, De Maio Gallo em 1972; Escola Estadual Dracena (SP, 1976); O primeiro Posto de Gasolina coberto (SP, 1976); A estação Ferroviária de Mogi das Cruzes (SP, 1976); A Agência Caixa Econômica Estadual Jardinópolis (SP, 1977); A Sadalla Galeria de Arte (SP, 1985); Centro Esportivo Telesp (SP, 1986); A Sede da Zanettini Arquitetura (SP, 1987); O Centro Cultural Jardim Europa de 1989; Agência Nossa Senhora do Sabará (SP, 1989); Clínica Ortopédica Pistelli (SP, 1989); Centro de Tecnologia da Construção Metálica (SP, 1989); Escola Panamericana de Arte Groenlândia (SP, 1989); Conjunto Habitacional Cubatão (SP, 1990); Escola Estadual Jardim Limoeiro (SP, 1991); Escola Estadual Rodolfo Pirani (SP, 1991); Escola Estadual Votupari Santana do Parnaíba (SP, 1992); A Casa Limpa da ECO 92; O Centro Poliesportivo de Convenções Ribeirão Preto (SP, 1992).

O Centro de Educação Ambiental em 1992; Tecelagem Satúrnia Limeira em 1992; O Projeto sistêmico em estrutura metálica da Siderúrgica Aliperti em 1993; Sistema multiviga para Metalúrgica Gerdau em 1994; Concessionária de veículos Londrina em 1994; Edifício Sercomtel Londrina em 1994; Centro Médico integrado Jurubatuba em 1996; Sede da Rádio Antena 1 (SP, 1996); Instituto de clínicas especializadas de Osasco (SP, 1996); Passarela de Volta Redonda em 1996; Condomínio Higienópolis Bollevard Center em 1996; Monorail Barra Shopping no Rio de Janeiro em 1996; Escola Panamericana de Arte Design Angélica (SP, 1997); Galeria Paparazzi (SP, 1998); Escola Padrão São Gonçalo (RJ, 1998); Estação Ferroviária Deodoro (RJ, 1998); Hospital São Francisco Ribeirão Preto em 1998; Colégio Progresso Campinas em 1998; Atrium do Hospital Albert Einstein em 1999; Universidade Salgado de Oliveira Goiânia em 1999; Centro Universitário do Triângulo Uberlândia em 1999; Retrofit do Hospital Edmundo Vasconcelos (SP, 1999); Colégio Santa Catarina (SP, 1999); Portal do Centro Universitário do Triângulo (MG, 1999).

E neste século mais um conjunto de experiências notáveis em equipamentos urbanos e projetos:

Passarela Secretaria da Saúde do Hospital das Clínicas em São Paulo em 2006; Nova Sede do Centro Virtual de Cultura USP (SP, 2004); Brazil Research & Geosciences Center/BRGC for Schlumberger; Ilha do Fundão – Rio de Janeiro em 2010; Inhotim Greenhouses Brumadinho Minas Gerais em 2010; Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJDFT Fórum do Meio Ambiente Brasília em 2011; Hospital Mater Dei Contorno Belo Horizonte em 2012; Centro de Convenções Unicamp Campinas (SP, 2012); Novo Complexo Industrial – Unidade Guaxindiba Laboratórios B.Braun em 2012; Hospital Moriah São Paulo em 2013; Escola Graduada de São Paulo Graded School em 2013; Hospital Mater Dei Betim (MG, 2016); Hospital Santa Mônica Nova Serrana em 2017; Retrofit das fachadas Hospital Albert Einstein Unidade Morumbi (SP, 2018).

E por fim a obra em aço mais emblemática do país o CENPES – Centro de Pesquisas da Petrobras Ilha do Fundão – Rio de Janeiro, premiado com o Prêmio 2011 Green Building Brasil – vencedor da categoria Obra Pública Sustentável e Prêmio 2012 GreenNation Fest na categoria Arquitetura Sustentável.

Quando vê uma obra sua pronta, a relação que tem com a mesma é de emoção, crítica ou espanto pela nova criação?

Em todas as obras a nossa postura é sempre crítica quando terminada. No entanto, pela dedicação, profundidade e rigor no projeto a reação que normalmente temos com as mesmas é de alegria, emoção e agradecimento pelos elogios que recebemos de usuários, diretores e construtoras responsáveis pelas execuções e pela excelência resultante. Dezenas de prêmios certificam esse esforço.

O que não pode faltar de forma alguma em uma obra idealizada pelo seu escritório?

Todos os tipos de cuidados, de grande investimento nos projetos na concepção e no detalhamento exaustivo, o grande envolvimento com todos os parceiros de projetos na compatibilização das várias especialidades e no acompanhamento das obras junto com os seus executores.

A arquitetura é uma corrida de longa duração ou arquitetos jovens podem realizar trabalhos tão notórios quanto os mais experientes?

Normalmente é uma corrida de longa duração, pois implica experiência de trabalho em escritório que objetiva alcançar arquitetura de qualidade. Para isso é necessário ter exemplos de tecnologias já realizadas, já trabalhadas em equipes multidisciplinares e que reflita um nível de conhecimento amplo consolidado e com resultados reconhecidos em obras realizadas.

O que a área acadêmica traz para a produção arquitetônica que o senhor considera ser de grande utilidade e valia?

A prática profissional normalmente enriquece o conhecimento acadêmico na medida que completa o que normalmente não ocorre no ensino. O contato com a produção industrial e o canteiro minimiza as lacunas que o aprendizado normalmente não consegue transmitir. O fazer se completa com o pensar.

Qual a influência do Centre Georges Pompidou em sua carreira e em suas obras marcantes?

Estudar e acompanhar experiências exitosas desafia e amplia saltos quantitativos e certificam o trabalho individual coerente com seu tempo. Quando visitei como já disse, o Centro Pompidou, vi nesse projeto realizado o que vinha experimentando isoladamente sobre o aço no Brasil na década de 70: os materiais expressos, as funções claras, a leveza, a transparência e a luz que eu tanto buscava.

Não foi sem razão que na época num texto sobre estrutura metálica, eu defini: “O Aço é a linguagem do vazio”.

O seu trabalho mais desafiador foi o Centro de Pesquisas da Petrobras. O que o senhor absorveu deste projeto e que trouxe para os seus projetos seguintes?

O CENPES – Centro de Pesquisas da Petrobras, foi sem dúvida o meu trabalho mais desafiador. Criei juntamente com José Wagner Garcia e mais 240 profissionais, pesquisadores e cientistas de várias áreas do conhecimento, um profundo trabalho de pesquisa sobre condições ambientais, com pesquisas de laboratório, e com testes e modelos sobre, vento, água, solo, materiais, sistemas construtivos limpos, formas de produção e montagem, organização de obra, e com trabalho integrado de inúmeras pesquisas das mais variadas disciplinas superando tabus e conceitos não estruturados.

O CENPES é considerado uma das maiores experiências já realizadas no país e merece de vários professores da UFRJ a publicação “Arquiteturas em Contextos de Inovação Centro de Pesquisas e Desenvolvimento na Cidade Universitária da UFRJ.” Organização Maria Angela Dias.

Como a sustentabilidade é tratada em seus trabalhos?

Como precursor da sustentabilidade no Brasil, título reconhecido pelo “Centro Brasileiro da Construção Metálica” e pelo Prêmio Internacional David Gottfried Global Green Building Entrepreneurship Award – World Green Building Council, recebido em São Francisco na Califórnia em 2012, pelos projetos ecoeficientes e bioclimáticos pesquisados desde da década de 70.

Na construção da casa de Atibaia em 74 realizei toda uma experiência de ecoeficiência e foi quando defini a importância estrutural do meio ambiente na arquitetura, que marcou minha produção teórica e prática na arquitetura.

Última atualização da matéria foi há 4 meses


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