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Tiago Curioni enxerga novas funções do designer

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Tiago Curioni é arquiteto e designer. É um profissional premiado no Brasil e no exterior, com estúdio sediado em São Paulo em uma dessas casas antigas, com jardim na frente e cachorro na oficina. Sua obra é, em grande maioria, formada por peças de mobiliário desenvolvidas para seus projetos de arquitetura e que, posteriormente, entram na linha de produção de seu ateliê. Dono de um traço limpo e simples, costuma trabalhar com diversos materiais, sempre procurando elementos inovadores e que possam desafiar seu desenho. Sua obra conta com peças de mobiliário e iluminação, com itens que passeiam entre o autoral e o comercial, algumas delas premiadas em importantes concursos fora do Brasil; a exemplo da luminária Bubble, encontrada em sua loja virtual no site Boobam. “Não existe uma preferência por algum material, ou um que seja mais interessante que o outro. Cada um entregará melhor aquilo para o qual foi desenvolvido. Acredito, no entanto, que o aço é o que mais me desperta envolvimento, pela grande capacidade de adaptação e transformação. Isso me permite criar formas novas rapidamente e mudar se necessário. (…) Sobreviver do design só é possível quando se perceber que não basta ficar apenas atrás de uma mesa, anotando ideias no caderninho ou criando 3Ds incríveis. O designer deve atuar de forma integral a seu produto”, afirma o talentoso designer e arquiteto.

Tiago, o que um bom design deve ter além de forma e função?

Essencialmente o bom design deve atingir um número grande de pessoas, não apenas por ser acessível, mas por fazer sentido a elas. O mercado está inundado de produtos massificados, iguais uns aos outros e pior, custam caro. É importante manter o foco em como aquilo que projetamos será percebido pelo usuário, como se comportará dentro das residências, como crianças e idosos lidarão com o produto.

O que não pode faltar em um trabalho criado por você?

História e estória. O storytelling é o cerne do meu trabalho. Muitas vezes deixo de levar um trabalho adiante, simplesmente por aquilo não me dizer muito a respeito. Por outro lado, alguns produtos me emocionam quando os desenho; pois, ali está o âmago do que eu sou, do que acredito. É comum a história vir antes mesmo do produto e sinto um enorme prazer em contar esta mesma história para as pessoas, pois, quero que elas vejam da forma como eu vejo; quero compartilhar aquilo com todos. E as pessoas aceitam esta proximidade e replicam esta história, tal como a contei, a todos quanto puderem. O design tem esse poder, de expressar muito através das formas e de detalhes.

Você tenta criar algo novo praticamente todo dia. Em que momento essa ideia se tornou mais desafiadora em seu modo de enxergar o seu ofício?

Recentemente li um artigo sobre uma chef de cozinha muito famosa que dizia não ter tempo mais para cozinhar, para fazer o que amava. Havia tempo apenas para administrar os negócios. Aqui não é diferente, principalmente agora que decidimos expandir para Portugal, de modo a atingir o mercado europeu. Criar algo novo todo dia é um exercício que desenvolvi no início da carreira; pois, queria ter um banco de ideias que respondesse a qualquer questionamento ou problema. É um bom exercício, principalmente pelo fato de haver muita liberdade nisso.

Ideias antigas já foram conectadas em trabalhos novos?

Sempre… nunca jogue fora uma ideia, pois, um dia você irá utilizá-la. Você não precisa dizer a seu cliente que já tem aquilo pronto, mesmo porque, não queremos que ele ache que nosso trabalho é simples assim; mas é aí que faz todo sentido criar algo novo todos os dias.

O seu arquivo visual é mais anotado ou lembrado?

Um pouco dos dois. Tiro muitas fotos de objetos curiosos, de situações que são gatilhos para ideias; mas não dispenso o caderninho de desenho… apesar de atualmente ter alguns e compilar todos os sketches ser um desafio… ou lembrar onde anotei aquele desenho.

Que materiais geraram a sua curiosidade e por que tal curiosidade foi aguçada?

Não existe uma preferência por algum material, ou um que seja mais interessante que o outro. Cada um entregará melhor aquilo para o qual foi desenvolvido. Acredito, no entanto, que o aço é o que mais me desperta envolvimento, pela grande capacidade de adaptação e transformação. Isso me permite criar formas novas rapidamente e mudar se necessário. A fase de prototipagem, por exemplo, é muito simplificada em produtos em ligas metálicas.

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Existe ou existiu algum material que lhe intimidou em um primeiro momento?

Os polímeros, em geral. Talvez pelo fato de estarem mais ligados a indústria pesada e de tiragens maiores. No entanto, tenho especial interesse em design industrial e a aproximação do estúdio com fábricas que utilizam plásticos. É um dos caminhos de 2019.

Como a madeira é vista por você e quais peças criadas com esse material lhe trazem uma lembrança agradável?

A madeira é paixão. Você percebe isso quando observa um designer falar sobre seus produtos em madeira. Fatalmente ele estará tocando a madeira e ressaltando cada detalhe: “está vendo os veios? Consegue observar o tom característico? Esta madeira tem um aroma agradável, não?”. Qualquer designer irá se referir assim a este material.

Tenho especial carinho pela Mesa Sorte do Dia, feita em tacos de peroba, retirados de uma obra. Cada taco revela um desenho da madeira, um furo de prego, uma marca de salto alto… como não admirar a madeira?

Em que momento a ideia de um designer deve ser mais individualizada?

O designer hoje exerce uma função muito maior do que desenhar. Este profissional se senta ao lado dos executivos e donos de empresas. Sua voz se fez ouvida, simplesmente pelo fato do mercado ter entendido que o designer é capaz de pensar de forma macro, enxergando o problema de forma global. Não existe razão alguma em contratar um designer se não puder e quiser dar liberdade para este profissional pensar e agir de forma autônoma quando tiver de fazê-lo. Claro, é responsabilidade do designer desenvolver o produto e entregar baseado em uma série de fatores e vetores, mas estamos preparados para isso. Ou pelo menos, deveríamos.

Acredita na ideia que diz que cada designer é único em seu modo de fazer e trazer o seu trabalho ao público?

É cada vez mais difícil ser original e único. Sejamos francos a isso… em um mundo tão conectado; não digo conectado ao nível que mencionávamos 10 anos atrás, digo conectado como é agora em 2019; se diferenciar é uma tarefa árdua e dolorosa. Equipes imensas trabalham nisso, garantindo originalidade e inovação. Mesmo assim, é um desafio diário. O que não dá é fazer mais do mesmo!

Qual o maior desafio que deve ser encarado com fervor e obstinação neste ofício?

Sobreviver do design só é possível quando se perceber que não basta ficar apenas atrás de uma mesa, anotando ideias no caderninho ou criando 3Ds incríveis. O designer deve atuar de forma integral a seu produto.

Se foi contratado para desenvolver uma torneira, ou uma cadeira, ele vai não só desenvolver aquele produto, mas vai comunicá-lo e pensar na estratégia de venda. Não achem que esse é o trabalho apenas do setor de marketing.

Muitos designers não atingem as indústrias, pelo fato de não mostrarem o quão realmente podem ajudar. Vale a empatia e se colocar no lugar do fabricante, que muitas vezes enxerga o profissional como um desenhista sonhador. Mostrar que seu produto não é apenas um objeto, mas sim um conceito completo e que vem acompanhado de uma retórica a ser seguida é o diferencial do designer do final da segunda década dos anos 2000…, ou melhor, do Brasil atual, que finalmente atinge um estado maduro para falar e produzir design de qualidade.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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