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Fábio Wanderley Reis traz as incertezas no horizonte

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Fábio Wanderley Reis é considerado um dos principais cientistas políticos do nosso país. Em 1962, fez parte do grupo de recém-formados mineiros que recebeu bolsa de estudos da Unesco para a realização de Pós-Graduação em Sociologia na Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), onde obtém, em 1963, o título de Especialista em Sociologia com trabalho intitulado “Subdesenvolvimento, Modernismo e Tradicionalismo Agrários”. Lecionou durante toda sua carreira no Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais, do qual foi um dos fundadores, e tornou-se professor titular em 1981 com a tese “Política e Racionalidade: Problemas de teoria e método de uma sociologia crítica da política”. Foi também presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, pesquisador visitante no Helen Kellogg Institute for International Studies da Universidade de Notre Dame e no Cebrap, além de professor visitante na USP. Em 1997, tornou-se professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais. “Essas simpatias surgem como um aspecto de um quadro geral de pouco envolvimento com a política e pouca informação sobre política principalmente nas camadas socioeconomicamente menos favorecidas do eleitorado, portanto, suas camadas majoritárias. Bolsonaro é apenas um beneficiário ocasional disso”, afirma o cientista político.

Professor, quais características moldam as eleições presidenciais deste ano?

Claramente, as eleições se singularizam pelo fato de ocorrerem num momento de prolongada crise econômica e política, com o intenso impacto da Operação Lava Jato sobre a política, o comprometimento do sistema partidário que parecia consolidar-se com base especialmente no enfrentamento repetido entre PT e PSDB, no nível das disputas presidenciais, e com consequências negativas para o próprio sistema judiciário.

O país terá algum tipo de calma logo após as eleições ou o caldeirão ainda continuará “borbulhando?”.

O quadro é de muita incerteza, me parece perfeitamente possível que continue borbulhando.

Como o senhor explica o “fenômeno” (se é que podemos dizer assim) Bolsonaro?

Há muito tempo as pesquisas mostram que existem simpatias e apoio com respeito à participação dos militares na política do país. Essas simpatias surgem como um aspecto de um quadro geral de pouco envolvimento com a política e pouca informação sobre política principalmente nas camadas socioeconomicamente menos favorecidas do eleitorado, portanto, suas camadas majoritárias. Bolsonaro é apenas um beneficiário ocasional disso.

Podemos dizer que o eleitor brasileiro é de centro?

Não acho que isso faça muito sentido, em geral, nas condições do eleitorado mencionadas na resposta anterior: as pesquisas mostram que a maioria do eleitorado nem sabe direito o que significa “direita” ou “esquerda”. Mas é inegável que, em termos de voto nas eleições, especialmente presidenciais, tivemos um longo período de identificação majoritária do eleitorado com lideranças de esquerda no país, com consequência na polarização intensa e de ânimo odiento e na mobilização direitista que temos visto.

Lula terá influência para transferir votos para o candidato que indicar?

A resposta é com certeza positiva, como as pesquisas recentes têm indicado.

O papel do PT torna-se menor como protagonista com o ex-presidente preso?

O fato de ele estar preso provavelmente tem algum impacto negativo sobre esse papel. Mas a prisão de Lula tem também um papel simbólico que tende antes a reforçar a mobilização e a disposição de luta de uma parcela importante do eleitorado. A questão é talvez a de saber qual das duas consequências tenderá a prevalecer junto ao eleitorado popular majoritário.

Recentemente, o senhor afirmou que o Governo Temer se mostrou incapaz de resolver a crise dos caminhoneiros. Como enxerga o final desse Governo?

Vai ser um final melancólico. Ou já é – isto é, não dá para esperar um final diferente daquilo que já estamos vendo.

Como distinguir um líder de fato de um “messias” populista em momentos como esse?

Não estou seguro que seja possível separar inteiramente as duas figuras num processo eleitoral marcado pelo substrato de grande desigualdade da sociedade brasileira, em que, com o sufrágio universal, o populismo se torna uma fatalidade. Creio que existe, quando nada, a possibilidade de distinguir entre populismos melhores e piores, como sugere a experiência Lula/PT no período recente em confronto com o tradicional populismo fraudulento de antes – não obstante, as dificuldades e problemas em que essa experiência terminou por se envolver, com a ajuda da polarização que se criou.

A demonização de políticos e partidos deve cessar em algum momento?

Seria de todo desejável, apesar de que seja difícil visualizar, no momento, o fim dessa demonização, como corroborado na crise dos caminhões.

Qual seria a força das redes sociais nessa demonização?

É evidente que elas representam um recurso importante para a mobilização das pessoas, como demonstrou o que aconteceu em 2013 e depois. Naturalmente, isso não garante que o resultado seja bom, e o papel que elas cumpriram na demonização da política mostra a importância dos equívocos que elas podem ajudar a fazer prosperar.

Quais os pontos positivos que podemos tirar dessa crise?

Vista “a crise” numa perspectiva ampla, creio que o que eu disse acima a propósito de populismo pode ser retomado aqui. Não dá para esperar a desigualdade brasileira acabar para depois procurar fazer uma democracia incorporadora com partidos “autênticos”, e nessa perspectiva acho imperioso procurar resgatar o que a experiência do PT representou de boa novidade na política brasileira.

Última atualização da matéria foi há 8 meses


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